terça-feira, 14 de outubro de 2008

Os paraísos artificiais

Na minha terra, não há terra, há ruas;
mesmo as colinas são de prédios altos
com renda muito mais alta.

Na minha terra, não há árvores nem flores.
As flores, tão escassas, dos jardins mudam ao mês,
e a Câmara tem máquinas especialíssimas
para desenraizar as árvores.

O cântico das aves - não há cântico,
mas só canários de 3.º andar e papagaios de 5.º
E a música do vento é frio nos pardieiros.

Na minha terra, porém, não há pardieiros
que são todos da pérsia ou na China,
ou em paises inefáveis.

Na minha terra não é inefável.
A vida na minha terra é inefável.
Inefável é o que não pode ser dito.


Poema de Jorge Sena, Pedra Filosofal ( 1950)

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